Você conhece Nise da Silveira?
Nise da Silveira (1905–1999) foi uma médica psiquiatra brasileira que transformou radicalmente a forma como enxergamos e tratamos o sofrimento psíquico. Em um tempo dominado por práticas agressivas como eletrochoques, camisas de força e lobotomia, Nise ousou caminhar na contramão, guiada pela sensibilidade, pelo respeito à subjetividade e pela arte como expressão da alma.
Formada em medicina no início dos anos 1930 — sendo a única mulher em sua turma —, Nise foi profundamente influenciada pelas ideias da psicologia analítica de Carl Gustav Jung. Recusando os métodos violentos da psiquiatria tradicional, ela passou a observar seus pacientes com um olhar mais humano, considerando suas expressões simbólicas, seus sonhos e a riqueza dos seus mundos internos.
Foi no Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, que fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação. Ali, criou o Setor de Atividades Expressivas, onde pacientes podiam se expressar livremente por meio da pintura, da modelagem e da escrita. Nise não via nesses trabalhos apenas atividades “ocupacionais”, mas verdadeiras janelas para o inconsciente — revelações da psique, muitas vezes mais profundas que os diagnósticos clínicos.
Essa abordagem deu origem ao Museu de Imagens do Inconsciente, onde até hoje estão preservadas milhares de obras criadas por internos, revelando a beleza e a complexidade do universo psíquico. Nise acreditava que a escuta, o afeto e a arte podiam ser mais eficazes do que qualquer contenção física.
Ao longo de sua vida, enfrentou preconceitos, resistências e isolamento profissional. Ainda assim, permaneceu fiel aos seus princípios, deixando um legado que continua inspirando profissionais da saúde, artistas, psicólogos e todos os que lutam por uma abordagem mais humana na saúde mental.
Falar de Nise da Silveira é reconhecer a força da delicadeza, a coragem de acolher a diferença e a potência curadora da expressão criativa. Seu trabalho continua a ecoar em cada gesto terapêutico que prioriza o vínculo, o respeito e a escuta verdadeira.